quinta-feira, 29 de julho de 2010

Deus e o estado



A liberdade individual de acreditar em conceitos metafísicos, deve ser um direito inerente a qualquer sociedade. A qualquer conceito que não tenha qualquer prova plausível, qualquer especulação é tão válida como outra qualquer. Não sendo a prova de ausência a ausência de prova, torna-se facilmente compreensível que muitos identifiquem que nessa ausência encontra-se a explicação daquilo que (ainda) não compreendemos.
Afirmando individualmente que se possui o conhecimento de algo sem prova, criando histórias sobre acontecimentos à partida impossíveis, como nascimentos de virgens, aparições, muitos oportunistas têm surgido que utilizam a cega confiança de alguém para impor diferentes tipos de leis, que por se afirmarem de origem divina, não estão ao nível da discussão mundana, permitindo assim ultrapassar o simples bom senso, permitindo a boas pessoas infringir sofrimento noutras.
Esta imposição, limita obviamente qualquer um de ter a sua própria crença sobre aquilo que em qualquer assundo que se aplique o bom senso, simplesmente não existe. Desta forma, a separação entre o estado e especulações ou crenças sobre o metafísico, deve ser algo inerente a qualquer sociedade em que a liberdade individual é um pilar assente. As consequências da não separação destes conceitos, são a imposição de quaisquer leis inventadas por indivíduos, levando a leis extremas como o apedrejamento de mulheres por adultério, mutilação genital (masculina e femininna), a limitação da liberdade de pensamento, justificações de guerras, torturas com base na ausência/diferença de fé, ausência de liberdade de expressão, pois tudo isso pode ser justificado por livros escritos há séculos e confortavelmente considerados "sagrados" e inquestionáveis. Resta a liberdade de interpretação, desde a literal (chocante) a no fundo qualquer que se queira dar, dada a variabilidade de histórias e possíveis conlusões.
Torna-se estranho pensar como uma simples interpretação de um livro sobre algo que não tem qualquer prova, pode levar um ser humano a infringir sofrimento a outro. Muito mais chocante é, quando uma dessas interpretações é imposta a uma sociedade inteira.
Felizmente cada vez mais indivíduos e sociedades compreendem a natureza deste tipo de crenças e o ponto fundamental é a separação entre o estado e a religião. Surpreenderam-me por isso esta semana as notícias sobre os protestos contra a remoção de um objecto de tortura/execução de origem religiosa da frente do Palácio presidencial na Polónia. Foi este colocado por escuteiros (que surpresa...), para perpectuar a memória do falecido presidente no recente acidente de avião.
Existem aqui dois oportunismos óbvios. O primeiro, como a religião ganha poder utilizando a fraqueza inerente do ser humano (morte), assumindo e confortando com especulações sobre explicações que mais uma vez afirmam vir de interpretações dos textos dos tais livros. O segundo oportunismo é a utilização da morte de alguém, um acontecimento respeitado, para impor qualquer visão que se queira afirmando que esta pertencia à visão da pessoa em questão. É isto uma forma barata de propaganda que infelizmente se mostrou bastande efectiva no passado. Basta ver o conceito usado pelos cristãos do messias que "morreu por nós" e do actual oficial presidente da coreia do norte, falecido há mais de 15 anos. Ninguém se pode impor ao que alguem afirma que estes disseram, e a oposição é mal vista dado o respeito por alguém que não se pode mais defender.
Vivendo numa sociedade em que a liberdade de pensamento e expressão é um valor assente, a importância de cada um questionar aquilo que provavelmente lhe foi imposto como "não questionável" é de valor fundamental. Apenas assim, a liberdade individual e a não aceitação de leis passíveis de inflingir sofrimento em larga escala é possível.

6 comentários:

L u i s P e s t a n a disse...

Colocando de parte o facto de concordar com a tua opinião neste assunto, e simplesmente avaliar a forma como o fizeste, posso dizer que foi o teu melhor texto de sempre.

Que qualidade de escrita Jacek...

Unknown disse...

Pestana,

Obrigadao :)

Espero que mais pessoas partilhem a opiniao, principalmente sobre o conteudo!

Pedro do Mar disse...

Já andava para ler este teu post há uns dias e realmente gostei de o ler. :-)

E concordo com o que escreveste.

Abraço

Unknown disse...

:) Fico contente por teres gostado!

Ja agora uma actualizacao 'a noticia sobre a cruz em frente ao palacio presidencial na Polonia... pelos visto ja existe uma segunda cruz preparada, para o caso de tirarem esta!

Nao percebo como e possivel os apoiantes nao verem a manipulacao politica da qual sao vitimas, e consequentemente colaboradores. A forma como tentao encobrir isto e' identificando a situacao como uma discucao de valores, sem perceber que ao faze-lo estao a violar o valor fundamental da liberdade de crenca em conceitos metafisicos. Escolha essa, que no caso deles, deu inicio a toda esta discussao...

Abraco!

Pedro do Mar disse...

Eh lá, essa de terem uma substituta preparada soa a trauma por lhes terem roubado a tabuleta de "O trabalho liberta". Enfim...

Abraço

Unknown disse...

lloolll :D

Nao digo nada!! Mas de facto podemos aprender o quanto os velhos habitos e tradicoes se enraizam na populacao, tirando-lhe a tao importante flexibilidade e clareza de pensamento.

Abraco!