quarta-feira, 6 de maio de 2009

Talvez triste...

As luzes intermitentes altenavam imagens isoladas. O alcool tornava estas imagens fluidas. E' realmente combinacao bem imaginada, o alcool e este ambiente. Nao me parecia que ninguem que la' estivesse o suportasse continuamente sem alcool ou drogas no sangue. As maos segurando os copos mantinham-se relativamente paradas enquando o resto dos corpos mexiam a um ritmo sicronizado com a musica.

Tinha as maos redondas, tal como a cara e o corpo, com as unhas visivelmente roidas. Nao so' as unhas como a pele 'a volta. Notava-se ligeiras feridas mostrando que continuamente procurava remover mais um pedaço da pele. Parecia tao fragilizada que qualquer picadela resultaria numa gota de sangue. Talvez fosse isso que procurasse, saborear a dor que provocava a si pro'pria. No do seu circulo ela era a mais activa, delirando ligeiramente. Sempre que alguem se aproximava era a primeira a afasta-lo do grupo, talvez por saber que nao seria a escolha, ou pelo menos a primeira. Ser a primeira a mostrar que consegue afastar alguem fa-la certamente sentir que lidera no seu circulo... Nao lhe interessa tanto aquilo que é, mas aquilo que mostra ser... Talvez seja a angustia que continuamente ecoa de forma aguda dentro dela, associada com este falso poder a faca delirar. Um dia provavelmente o delirio leva-la ha' a aceitar que nao e' a primeira escolha de ninguém e levara' tudo mais longe... Fara' tudo o que sempre imaginou e muito mais. Tentara' preencher-se com o vazio, esperando que este a preencha. Mas a realidade apenas lhe mostrara' que assim nao e'. O corpo liberta arrepios de angustia enquanto vai embora sem responder aos telefonemas que entretanto recebe, sentindo que tem bem definido o que quer...
Continuava a dancar, quase obrigando as colegas a faze-lo. Alguem se aproximou dela, o que resultou em automaticamente tirar o telemovel e comecar a pressionar as teclas observando a luz no ecra... penso que era a forma que tinha de justificar que tinha algo mais importante. Na realidade nao tinha, mas nao acreditava mais em nada que a fizesse feliz a nao ser mostrar-se superior.

Reparando que eu estava a reparar nela, fixou por momentos os olhos em mim e rapidamente desviou. Talvez por ter percebido pela minha expressao o meu pensamento, talvez pela minha falta de expressao... Chegara' um dia em que nao desviará o olhar, pois provavelmente nada mais tera' a perder...

Fui embora pensando no poder destrutivo que os imediatismos conseguem ter quando a unica coisa que se quer é nao ser menos que ninguem...

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