sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Direitos

Imaginemos duas familias em que que vivem na casa uma ao lado da outra. (Neste contexto nao existem leis, tribunais, apenas etica). O Homem da casa da esquerda ausenta-se por um longo periodo e leva consigo o filho mais velho, pedindo ao visinho da direita para tomar conta da casa enquanto este esta' fora.

Passado anos, a familia da direita cresce e os netos desta sao criados na casa da esquerda. Os dois Homens entretanto falecem, e os netos do pai da esquerda vao para a casa do avo e pretendem que os netos do Homem da direita saiam de la'. Os netos da esquerda recusam-se.


Quem deve ficar na casa?

Algumas factos e perguntas a incluir na reflexao:

- Os netos do Homem da direita conheceram aquela casa como sendo a deles, sem saberem do acordo entre os avos.
- Os netos do Homem da esquerda nunca conheceram a casa, apenas o Avo lhe contou sobre a existencia.
- O facto de algo ter pertencido em tempos a um antepassado, deve dar-nos o direito a isso, mesmo que nunca tenhamos usufruido?
- Por estarmos num sitio ha' uma geracao, da-nos o direito de o considerarmos nosso?
- O nosso julgamento da questao seria' o mesmo se isto acontecesse mais algumas geracoes 'a frente?

4 comentários:

Pedro do Mar disse...

A princípio não parece haver dúvida de que os netos do homem que se ausentou têm direito à casa.

Porém, não há dúvida de que se pensarmos umas gerações mais à frente, as coisas mudam de figura. Mas claro que isto é apenas partindo do princípio de que não há «lei» (apenas «ética»).
Ou seja, na ausência da lei, a definição de "propriedade" passa a ser outra.

A ideia de uma sociedade sem o conceito de propriedade tem a sua beleza... mas, apesar de exequível, dá resultados perversos. E o passado já o demonstrou claramente.
Mas pronto, isto levar-nos-ia para uma discussão política.

A partir do momento em que se institui a "propriedade", há que ver o que é que a estabelece.

À partida existem duas formas de determinar que algo é "propriedade" de alguém.
A que usamos baseia-se na ideia de que algo só me pertence se me tiver sido vendido, dado ou se o tiver herdado, por exemplo, ou se tiver sido criado por mim.
A outra hipótese seria atribuir a propriedade de algo a quem dela usufrua ou por ela zele, como no exemplo que deste em que as pessoas criadas naquela casa passariam a ter direito a ela.

Em resumo, não havendo lei prevaleceria a ética e por isso as pessoas ali criadas teriam direito à casa (enquanto a estivessem a usar, claro). Mas ainda bem que há lei, porque se bem conheço o ser humano, esta história não acabaria sem um tiro ou dois...

Abraço

Unknown disse...

Pedro!

A parte dos tiros é bem verdade! Neste caso os netos que nunca tinham visto a casa apenas sabiam da sua existencia a partir do que o avô lhes tinha contado. O que me leva a pensar que o ser humano é ganancioso por natureza. Por exemplo, se alguém viver com tudo o que precisa e de repente souber que uma propriedade algures lhe pertence, mesmo implicando isso expropriar as pessoas que lá vivem há mais de uma geração, parece-me que o fariam. Mas podemos sempre voltar atrás no tempo e descobriremos que afinal aquilo pertenceria a outra pessoa que não o actual proprietário.

Extendendo este caso a uma escala maior, temos os exemplos da maioria dos países. E o resultado de se reclamar a propriedade após gerações nunca se resolveu, como referiste, com um tiro ou dois...

Pedro do Mar disse...

É mesmo...

Mas acertei na intenção do teu post? Era mesmo essa questão da "propriedade"?

Unknown disse...

Pedro,

Sim, a questao da propriedade e' uma questao aparentemente simples mas extremamente dificil de conciliar o bom senso com a lei.

Comecei a pensar nisto depois de discutir com a minha nova colega chinesa de escrito'rio sobre o Tibete. Neste momento como sabes a China ja' garantiu que milhares de Chineses vivessem la'. E tendo passado uma geracao, existem chineses a viver la' e a identificar a terra como sendo a China. Imaginando que a situacao geral, aos nossos olhos se resolveria da forma mais justa e talvez utopica, seria isto realmente justo para a nova geracao la' criada?