segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Boas pessoas

O conceito de bem parece obvio quando visto aos olhos da maior parte das religioes. Com uma se'rie de regras basicas torna-se aparentemente simples levar uma vida de bem.

Mas, embora estas nos consigam impor uma moral, em que sentimos a necessidade de fazer o bem, e sentimos que nunca seriamos capazes de quebrar nunhuma dessas regras. Penso que o bom senso e' suficiente para compreender e sentir naturalmente essas regras (embora o temor de um castigo eterno seja um incentivo para muitos). Mas o que fazemos quando temos uma decisao etica pela frente que implica quebrar a nossa moral?

Por exemplo: Vamos a conduzir com a nossa mais que tudo ao lado, e do lado esquerdo alguem se atravessa na estrada. Temos duas opcoes: ou nos desviamos para a direita e embatemos lateralmente na arvore que la esta' ou atropelamos a pessoa que nos apareceu 'a frente. Qualquer uma das opcoes implica a morte de uma ou outra pessoa. Nao existe outra opcao senao estas duas. O que devemos fazer nesta situacao? Esta decisao e' independente de quem sao as pessoas, ou seja, quem e' o passageiro e quem e' a pessoa na estrada?

Quebramos com esta situacao a nossa moral? Ficamos, segundo a religiao, a merecer o eterno castigo por termos quebrado uma das regras fundamentais?

11 comentários:

Nês disse...

Eu acho que não existem pessoas boas nem pessoas más. Todos nós temos o poder de escolher as nossas acções e todos nós temos instintos bons (instinto materno, por exemplo) e instintos maus (quando a nossa propria sobrevivencia é posta em causa muitas vezes podemos ser crueis). Há tb uma serie de condicionantes que não podem ser postas de parte, como a educação que tens, o ambiente em que vives, as ideologias que te foram de alguma forma transmitidas, etc. Nós podemos por isso desenvolver mais o nosso lado mau ou o nosso lado bom e não existe realmente algo para medir isso. Uma pessoa que se esforce por fazer o bem pode muitas vezes ser injusta e fazer coisas más (somos humanos, n é?) e uma pessoa que todos consideram má pode ter atitudes boas. Por isso essa questão não é tão simples como ser-se bom ou ser-se mau.
Quanto ao exemplo que deste... Conheci e presenciei alguém numa situação parecida quando tinha uns 10 ou 11 anos, um dia ao ir apanhar o autocarro para a escola. Os miudos mal viam o autocarro iam todos aos empurrões, nas brincadeiras parvas próprias da idade, para tentarem ser os primeiros a entrar e escolher os melhores lugares. Acontece que nesse dia o condutor do autocarro não os estava a ver e dois deles estavam mesmo lá à frente. A irmã de um dos miudos que estava mais atrás só conseguia puxar um deles e instintivamente puxou o irmão. A roda do autocarro passou em cima da perna do meu outro colega, que felizmente recuperou bem depois de algumas cirurgias embora lhe tenham sido amputados alguns dedos do pé. Estou a contar isto e está a dar-me um nó na garganta só de me recordar, foi mesmo muito mau. Numa situação destas, obviamente a rapariga depois ficou em choque mas a culpa não foi dela, ela apenas se viu confrontada com uma decisão difícil e agiu segundo o instinto. Tanto quanto sei passado algum tempo ultrapassou a situação. Espero nunca ter que me ver numa situação dessas. Quanto ao caso que descreveste, embora qualquer uma das vidas tenha o mesmo valor, a pessoa que se atravessou no meio da estrada foi responsavel por colocar todos em perigo, enquanto que a pessoa que vai ao teu lado não teve culpa nenhuma. Mas mais uma vez isto não significa que "o certo" seja atingires quem vai a atravessar a estrada. Até porque esta pode ser uma forma para te tentares deculpar a ti proprio por teres escolhido uma em vez da outra... e porque poderia a situação ser posta ao contrario, tinhas dado boleia a um desconhecido e alguém que te é querido atravessou-se no meio da estrada... não acho que haja uma decisão correcta a tomar numa altura dessas. Cada pessoa faria aquilo que o instinto lhe dissesse nessa altura e não poderia ser responsabilizada qualquer que fosse a decisão, porque no fundo o condutor também seria uma vitima neste caso. Vitima de ter que sofrer esse trauma e viver com isso o resto da vida. Não seria esse já um castigo bastante pesado para quem não teve culpa nenhuma? Sinceramente, acho que qualquer pessoa que se tenha visto envolvida numa escolha dificil e traumatizante deve é ter ajuda psicologica para poder ultrapassar, pois isso não tem nada a ver com bondade ou maldade, essa pessoa é vitima de uma situação de escolha terrivel.
Bem, já escevi um testamento, para variar eheh é melhor parar :D
beijinhos
Inês

Unknown disse...

Ines, concordo com o que dizes, definir se alguém é bom ou mau não é uma situação trivial. Penso que o bom senso diz-nos que o mal é fazer aos outros aquilo que não gostariamos que nos fizessem a nós. O bem, pode ser ainda uma extensão disto em que fazemos aos outros aquilo que gostariamos que nos fizessem a nós. No entanto temos de conseguir ver mais longe que isso. Tal como no exemplo que dei, em qualquer uma das decisoes, estamos a fazer simultaneamente o bem e o mal. Estamos a salvar a vida de alguem e a tirar a vida a outra pessoa. Passando isto para a nossa vida, por vezes o pequeno bem que fazemos a alguém, pode significar um grande mal que fazemos a outra pessoa e ao contrário. Por vezes fazer um pequeno mal, pode resultar num grande bem. POdemos aplicar aqui um fundamento da engenharia, em que não há soluções perfeitas, apenas compromissos perfeitos. E atingir esse compromisso, esse equilibrio na vida, deve ser o objectivo de todos nós, pois penso que é isto que torna uma pessoa boa.

Focaste mais um ponto interessante sobre as condicionantes que temos no nosso ambiente. Na minha opinião, as pessoas devem viver segundo os seus valores e não encontrar justificações nas condicionantes que aparecem. Estas existem sempre e cabe a nós avaliar o quanto queremos algo. Como Fernando Pessoa disse:

"Pedras no caminho? Apanho-as todas... um dia farei um castelo!"

Beijinhos

Nês disse...

Sim, tens razão, às vezes há mesmo males que vêm por bem ou ao contrário :) e por vezes pensas que estás a ajudar e até não estás, ou pensas que estás a ser mau e até ajudaste :) ou ajudaste alguém e prejudicaste outra pessoa :P got it now, estou lenta :D foquei-me demasiado no teu exemplo especifico e não percebi que estavas a pensar em algo maior eheh (pronto, vá tenho andando a tratar da minha tese, até tenho desculpa :D)

Unknown disse...

Inês,

Certo! O desafio é mesmo esse, encontrar o compromisso entre o bem e o mal que fazemos de forma que o "balanço" seja positivo!

L u i s P e s t a n a disse...

Quem acredita por exemplo na religião católica, é quase impossível que não tenhas castigo eterno.

Conheces alguém que NUNCA tenha feito algum deles?

1. Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas.

[LP]: Complicado

2. Não invocar o Seu santo nome em vão.

[LP]: Completamente comum.

3. Guardar os domingos e festas.

[LP]: ???

4. Honrar pai e mãe.

[LP]: Viável.

5. Não matar.

[LP]: Viável.

6. Não pecar contra a castidade.

[LP]: Complicado cumprir.

7. Não furtar.

[LP]: Quem nunca roubou um bolicau?

8. Não levantar falsos testemunhos.

[LP]: Quem nunca mentiu?

9. Não desejar a mulher do próximo.

[LP]: Nem comento.

10. Não cobiçar as coisas alheias.

[LP]: Completamente comum.

Unknown disse...

Pestana,

Bom ponto de vista :) Os 10 mandamentos sao sem duvida uma boa referencia para a moral, mas se funcionassem de forma a excluir completamente a cada nao cumprimento, o castigo eterno estaria destinado a toda a gente!

E depois.. apo's nao se cumprir um deles a primeira vez, se o temor pelo castigo eterno fosse a razao de se segui-los, deixaria de haver razao para os continuar a cumprir. Dai o conceito de arrependimento, sem duvida bastante util!

Pedro do Mar disse...

Bem, a pergunta é tramada. Faz lembrar a pergunta Quem escolherias para morrer se tivesses de optar entre um velho e uma criança?

Ora, a resposta que eu daria é simples:
Ninguém. Recusar-me-ia a escolher entre a vida de um ou de outro, porque não são coisas que se possam pesar, nem aceitaria essa responsabilidade da escolha.

Assim, resta-me o consolo de saber que muito provavelmente nunca terei de tomar uma decisão desse tipo, e assim tento acreditar que continuaria (e continuarei) a levar uma vida de bem.

No caso de que falas, independentemente do que fizéssemos, as nossas moral, ética, consciência ou religião (caso exista) nunca olhariam para a nossa eventual escolha como uma situação de "morte por nós causada"... e desse ponto de vista acho que poderíamos continuar a ser e a sentirmos-nos "pessoas de bem".

:-)

Pedro do Mar disse...

Quero só dizer mais uma coisa!

Que conversa é essa de "se funcionassem (os mandamentos) de forma a excluir completamente a cada não cumprimento, o castigo eterno estaria destinado a toda a gente!????

Ai a gaita!
Eu posso-me orgulhar de ter cumprido os 10 mandamentos em cada segundo da minha vida!! Sobretudo o primeiro...

Unknown disse...

Pedro, relativamente ao primeiro comenta'rio... tenho algumas coisas a discutir. O exemplo que deste sim, a resposta e' perfeita. Alguem pergunta-te quem escolherias e caso nao efectues uma escolha, alguem a fara' por ti, nao sendo tua a responsabilidade. Mas neste caso a ausencia de decisao nao e' uma decisao por si.

Mas vamos pensar num problema do tipo:
Se esta's sentado em silencio junto a um percipicio e um cego vai em direccao a ele, tu interferes para ele nao cair? Neste caso tens duas opcoes, interferir, ou deixar as coisas acontecerem como se tu nao existisses, ou seja, passar a responsabilidade para outros factores. A minha questao aqui e', tu e's culpado da queda dele? E's culpado por teres tido a possibilidade de fazer algo e nao o ter feito?

Relativamente ao segundo comenta'rio: llooll :D
O que quis dizer e' se o simples nao cumprimento de um mandamento uma vez e' suficiente para se merecer o castigo eterno. Neste caso o que te safa sao as oracoes que fazes antes de cada refeicao! :D

Pedro do Mar disse...

Bem, nesse exemplo do cego a aproximar-se do precipício é claro que teria de tentar evitar que ele caísse.
Aliás, estaria a pactuar com a morte dele se não o fizesse e a minha consciência não me deixaria dormir em paz.

A diferença em relação ao caso do post é que a minha acção apenas evitaria a morte de uma pessoa, em vez de escolher qual das duas pessoas morreria.

Agora fazes favor de parar com estes exemplos e perguntas, porque não tarda estás a colocar à nossa consideração o seguinte caso: "Estão dois cegos (um velho e uma criança paraplégica de cadeira de rodas) a dirigir-se para um precipício.
Estão muito afastados um do outro e eu estou a meio caminho entre ambos, de maneira que não é possível avisar um deles se for acudir ao outro..."

E se me colocas uma pergunta destas lixas-me! É que eu sou um homem de bem, temente a deus (ou quase)...
:-p

Abraço

Unknown disse...

Pedro, lloll

Não te vou colocar uma questão dessas :D O que eu quis mostrar no exemplo do cego é que a escolha de não fazer nada pode ser tão má como a de fazer algo. Provavelmente não é tão mau provocar a morte como não a evitar, mas o resultado é o mesmo!

Abraço!